quinta-feira, 23 de outubro de 2008


Cheia de emoções
eu transbordo por dentro.

E ando por aí
dona suprema
de grandes segredos.

Ninguém desconfia.

quando chove, cortázar, sempre cortázar...

DÉMONS ET MERVEILLES
De colinas y vientos
de cosas que se denominan para entrar
como árboles o nubes en el mundo
De enigmas revelándose en las lunas
rotas contra el aljibe o las arenas
yo he dicho y esperado
Creo que nada vale contra esta caricia
abrasadora que sube por la piel
Ni el silencio, ese desatador de sueños
Vivir
oh imagen para un ojo cortado
boca arriba perpetuo.
(julio cortázar)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Ando quietinha
olhando para o chão
caminhando em silêncio.

Mas não se engane
não é tristeza não.

É que a felicidade é uma fada
sensível e caprichosa
e eu tenho medo de assustá-la.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

outono

(bosque em vallvidrera - barcelona)

duas folhas na sandália

o outono

também quer andar

(leminski)

sexta-feira, 27 de junho de 2008

será que o mundo é tão perfeito assim?




















Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?


Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
{fernando pessoa}

terça-feira, 24 de junho de 2008

lisboa

""Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver..."
{fernando pessoa}

quarta-feira, 18 de junho de 2008

céu de ícaro

ando por aí, renascendo outra vez.
como não sei o que serei,
não posso pronunciar palavras.
de momento, prefiro o silêncio.
nele escuto minha respiração
e sei que ainda sigo viva.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Dias Azuis & Noites de Paz


Hoje por mais de um segundoo mundo rodou para trás
Folhas perdidas no tempo,
num vento que o tempo que não volta mais
Dias azuis
Noites de paz na cidade
Dias azuis
Vento que trás a saudade
Hoje, por quase um segundo, o mundo parou de rodar
Foi um perfume no vento
alguém que chegou para encontrar
Dias azuis
Noites de paz na cidade
Dias azuis
Vento que trás a saudade
Dias azuis
Vento de paz na cidade
Dias azuis
Noite que traz a saudade
{Milton Nascimento canta, mas a letra é de Daniel Jobim}

segunda-feira, 7 de abril de 2008

com a letra r

renascer

do lat. *renascere, por renasci*
v. int.,
tornar a nascer;
rejuvenescer;
reaparecer;
ressurgir...
{dicionário universal da língua portuguesa}

quarta-feira, 26 de março de 2008

sexta-feira, 21 de março de 2008

anjo


ele queria vôar
mas não conseguia
e sem saber que era de pedra
e da sua eterna condena
ele chorou.
*{foto by k. formehl}

quinta-feira, 20 de março de 2008

livre-arbítrio

e o vazio era tão grande
e pulsava tão forte
que ela arrancou o coração do peito
e ficou ali,
observando imóvel,
até que ele parou de pulsar
bem de-va-ga-ri-nho.
* {coração by salvador dalí}

quarta-feira, 12 de março de 2008

auto-retrato


K


Letra caminhante.

[Mario Quintana; Da preguiça como método de trabalho, 1987]

quinta-feira, 6 de março de 2008

{you've got a way that makes me feel so complicated...}

Don't u eva wish for just one thing that you might never see?
Don't u eva wish for just one thing that you might never know?
You might never know...




segunda-feira, 3 de março de 2008

para anna

"- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa criar laços...
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...
Mas a raposa voltou a sua idéia:
-Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música. E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe: - Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me! Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."
(O Pequeno Príncipe)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

tempo


Sinto muito, mas eu não posso falar de outra coisa, sim, nada para contar.
Não posso falar sobre o tempo em Barcelona, há dias não sei o que é a luz do sol.
Bom, e talvez sobre política? Não, lamento novamente. Até gosto do tema, mas não sei o que acontece fora das paredes do meu quarto.
Eu só posso falar de mim. Desse poço infinito de tristeza, dessa dor absurda que pulsa no meu peito, dos meus olhos já queimados dessas lágrimas com gosto de mar.
Eu só posso falar do medo que sinto, quando vejo minha imagen distorcida nesse espelho em ruínas.
Eu só posso te dizer que agora eu sofro, que me agarro numa esperança que me arranha os braços e me faz sangrar.
Os meus sete anos de azar já se acabaram, nem me lembro quando.
Vai ver que o tempo-rei não sabe contar…

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

I would give everything just for a taste...

... loosing my memory, saving my face...


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

nada disso


É, vai ver que é só tristeza. Uhum, vai ver que é só isso.

Talvez eu tenha que aprender a juntar os pedaços. É, pode ser que seja isso.

Bom, também pode ser que eu esteja cansada. Aham, é isso!

Pode ser tudo isso, só isso ou nada disso.

Ah, vai ver que eu tô mesmo confusa… Ou não é realmente nada disso…

eco

Pode tocar. Sim, pode gritar também.
Por favor, tenta arrancar pedaço daquela que já não existe mais: eu.
Viu só? Já não ficam marcas. Já não sangro mais.
Oco.
Vazio.
Eco.
{desenho by Victoria Francés}

sábado, 9 de fevereiro de 2008

ausência


Se é para falar de mim, eu fico quieta, desconverso mesmo. Não ando me reconhecendo no espelho mas o gosto amargo na boca segue o mesmo.
Quando soletro palavras mudas, a noite me abandona no meio da conversa, justo quando eu assumo que queria fugir, mas não sei para onde. O dia chega como quem não quer nada, e eu me escondo do sol atrás das minhas olheiras, tristeza sempre foi território seguro, aqui ninguém quer entrar.
Faz frio em Barcelona e os dias cinzas são bons para sair e não ser visto. O cachecol me protege do frio mas não consegue me proteger de mim mesma. Caminho ausente, contando lágrimas, quem sabe um dia esse inverno irá acabar. Para sempre.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

quarta-feira de cinzas




quarta-feira de cinzas:
meus sonhos e fantasias
choram sozinhos
na avenida.

{desenho by victoria francés}

domingo, 3 de fevereiro de 2008

é tão difícil
caminhar no escuro
quando tenho medo
de tudo aquilo
que não posso ver.

--> see the darkness here.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

metereologia



















choveu tudo
e tanto
que os olhos secaram
cheios de sal.

--> feel the storm here.

All for nothing... Did you really want?

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

inverno em barcelona





















acaba o dia
e a tarde cai
nos braços do inverno.

a noite escorre
entre meus dedos,
iluminando a encruzilhada
que eu levo gravada
na palma da mão.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

quintana & meu poema preferido














Amar: Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...

O amor é quando a gente mora um no outro.
(mario quintana)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

o sorriso do gato de alice


















sim, eu sei
ando por aí
muda calada ausente
o gato de alice
comeu minha língua.

mas logo eu junto minhas cinzas
e nasço outra vez.

tenho escolha?

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

o amor em tempos da distância

eu
cinema-mudo
diante de você.

você
com seu coração nas mãos
e eu
com as minhas mãos vazias.

2.0.0.8.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

27.12.07

guarulhos:
única testemunha
da minha dor.